quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Inércia

O ar é duro, quente, impiedoso. Penetra e aloja-se fundo no espírito, fazendo pesar os pulmões.
Os passos endurecem, pesam, tornam-se intransponíveis. O chicote soa alto a lembrar a obrigação de continuar em frente.
O grito é alimentado a cada gota, a cada vislumbre de suspiro. A ânsia, a dor, a revolta, clamam por liberdade, mas o grito pára. Chega até os pulmões e pára. Torna-se sopro frio que apenas iludi a boca.
Soam altos os comandos do carrasco. O passo segue modorrento, nodoso. E o coração sofre horrores tão agudos que permanece quieto, com medo de que qualquer movimento possa intensificar seu suplício.
Os braços permanecem amarrados junto ao corpo. E queimam, queimam... Ardem de desejo ao menor movimento, que rapidamente é reprimido pela ausência de prazer.
O suor, redentor, escorre pelo peito. Cada gota é um júbilo, pois apenas elas se criam em meio à dor.
A marcha segue... parada, estéril. E a consciência do infinito é a mordaça amarga daqueles que se conformam.

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