domingo, 23 de maio de 2010

Vislumbres da noite

O sono não vinha. Que inferno! Será a música? Vou desligar. Mas o sono não vinha.
O silêncio permitiu então, a concentração no problema. Permitiu que se descobrisse por que não dormia. Todos dizem suas verdades com tanta convicção, com tanta fé, mas uma sempre contradiz a outra. Só podem estar todos errados... Mas e então, o que será de fato verdade? Será que há mesmo uma verdade?! Ou só estamos aqui, condenados e sozinhos?
A angústia crescia. Meu Deus, eu preciso dormir! E o calor, o suor, o medo só aumentavam. E se eu ligasse pra Li? Ela está tão longe de tudo isso... E eu não sinto inveja dela. Por quê... ? Mas já eram três da manhã, não poderia ligar. Um cigarro! Um cigarro e eu durmo.
À janela, o cigarro foi aceso. A escuridão, as estrelas, a fumaça trouxeram um pouco de alívio. Falso, passageiro, mas uma trégua naquele momento. Pensava em Lídia, queria estar abraçado a ela, nu, sentindo a temperatura dela aquecendo seu corpo. Tirou a camisa. A brisa veio forte e gentil. Fechou os olhos... e implorou que o vento o levasse de volta para casa. Seja lá onde fosse, que o levasse.
E o vento, bondoso com seu filho, soprou mais forte, puxando as lágrimas para fora, o medo, a pena de si mesmo, a consciência de que aquela angústia era sagrada e justa.
Quando abriu os olhos, o cigarro havia apagado. Ficou ainda parado à janela, sentindo o infinito, sendo grato por não poder dormir e por Lídia estar dormindo. Sem perceber, sorriu tristemente, mas satisfeito.
O coração estava agora calmo, conformado e calmo. Agradeceu e fechou a janela. Ainda em pé, na penumbra, respirou fundo, como para tomar coragem. Deitou-se. Pensou ainda um pouco mais em Lídia e adormeceu.