quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Franqueza apocalíptica

E, no final das contas, o meio ambiente só aparece nesse tipo de contexto: tema de concurso de poesia, redação de vestibular, congresso mundial... E tudo sempre acaba no ponto final, sem esperança de sair do papel. E como se gasta papel com esse assunto, e nem é papel reciclável!
Estranho como a Natureza é sempre uma coisa à parte, a ser protegida, a ser eliminada, inclusa, globalizada, tombada, consagrada, nossa! Por que não apenas integrada? Porque, se é de poeta, é bucólico; se é dos anos 70, é hippie; se é de jovem rico, é ONG; se é de aluno da rede pública, é trabalho complementar; nunca é do Homem, sobrevivência. As frases de engajamento ecológico não deveriam ser “Salve as baleias!”, ou “Salve o planeta!”, deveriam ser “Salve a si mesmo!”. Afinal, eu sou tão Natureza quanto aquela árvore, não sou?!
Com o passar do tempo, das revoluções industriais, das investidas militares, fomos perdendo nossa capacidade Natural. Tão preocupados em inventar máquinas, e estudar fenômenos, e desvendar mistérios, que fomos perdendo o que nasceu conosco: o instinto, a auto-preservação, aquilo que os animais, as plantas, as pedras mantêm e sofrem, pois se criou um mundo em que isso não cabe mais.
O mundo tornou-se um lugar hostil, hostil à vida. E, se há algo absolutamente implacável, é a vida. A ignorância não será perdoada, o suicídio será punido, nada será justificado, nada terá valido a pena, independente do tamanho da minha alma, afinal, não haverá mais onde abrigá-la. Seria tão mais fácil se a humanidade se reintegrasse à vida, se reencontrasse com a Natureza de que ela surgiu!
Mas como esperar isso de uma raça que mata os seus por diversão, por descaso. Perdoem-me a franqueza apocalíptica, mas parece demais pra eles... Quer dizer, pra gente.