quarta-feira, 14 de abril de 2010

Vislumbre da madrugada


Um lago calmo, plácido; numa ponte rústica, cheirando a mar; um nevoeiro forte, gentil, umidade imperativa. Meu corpo doía, a cabeça rodava e, de repente, ele soltou da minha mão. Correu, pulou, mergulhou fundo e decidido. Não pude me mover, deitei e assisti. E quando achei que não voltaria mais, os pulmões se encheram de água e, como um profissional, ele filtrou tudo e continuou. Colheu do lado o mais lindo coral que já vi. Azul, brilhante, raro. Aquele que eu busquei por tanto tempo.
Voltou, alegre, imponente, em pé. E a multidão o cercou. De longe, minhas unhas ficaram afiadas. Cravei-as fundo em meu peito, puxando até as costelas; cravei-as fundo em minha barriga, rasgando até as costas; debaixo da blusa, pois por fora, dormia. Sorrindo e sangrando, me aproximei. Como a multidão, apertei-lhe a mão, mas não o olhava nos olhos; bati-lhe nas costas, mas não... o olhava nos olhos.
O Sol se pôs, o nevoeiro amainou. Pegou-me de novo a mão. Mas já não era mais ele. Era algo de fora. Apertou-me a mão, olhou-me nos olhos e insuportavelmente suja, o vi como um igual.